domingo, 4 de abril de 2010

O medievalismo dos anti-Dourado

 Durante todo o BBB 10, senti vontade de dizer muito mais coisas do que aquelas que consegui falar nas poucas linhas do Twitter e dos blogs que frequentei. Mas sempre freei em mim a possibilidade de criar um blog, porque pensava na minha falta de tempo e na quantidade de blogs que já discutiam o programa. Como acabou o BBB 10 e algumas coisas continuam entaladas na garganta, criei coragem e resolvi me aventurar.

Dentre as coisas que ficaram entaladas, estão as acusações de que aqueles que torceram pelo Marcelo Dourado são as “forças do atraso” da sociedade. Dona Morango acha, inclusive, que a vitória de Dourado foi um retrocesso social. Preciso dizer a ela que acho exatamente o oposto. Na minha opinião, infelizmente, o Movimento Gay organizado, no jogo que fez aqui fora com a chamada torcida anti-Dourado, foi quem encarnou as forças retrógradas da sociedade, ao encabeçar, no melhor estilo medieval, um processo de linchamento em que acusações sérias foram feitas a Marcelo Dourado, baseadas apenas na subjetividade da moral e na distorção do significado do símbolo do manji (a suástica budista) e do sentido da palavra fobia.

Ora, ora. Os que se julgam o supra-sumo das forças progressistas que me desculpem. Mas essa forma de atuação na sociedade, acusatória, que prescinde de provas materiais, baseada em sua própria moralidade e distorção da verdade (como é o caso da acusação de nazismo a partir do símbolo milenar do manji), é medieval. É equivalente a acusar Giordano Bruno de heresia, porque desdisse a palavra da Igreja de que a Terra não era o centro do Universo. Igreja que deu as costas para as provas materiais e preferiu lançá-lo na fogueira a partir, exclusivamente, de sua moralidade cristã. E eu não abro mão – não abro mesmo! – das conquistas do Direito feitas a partir da Revolução Francesa. Não quero ser julgada por qualquer crime a partir apenas de moralidades e disse-me-disse. É preciso que haja provas materiais!

Não quero dizer com isso que não fazemos julgamentos a partir de nossa moralidade. Fazemos, sim. Mas acusar alguém de um crime – como homofobia e nazismo – é muito sério para prescindir de atos e provas materiais. Ou será que não fazer chapinha, não ter uma diva dentro de si, ou não gostar de cheirar roupa íntima de alguém do mesmo sexo agora virou homofobia? Os anti-Dourado dirão: Aah, mas e o que ele falou sobre a Aids? Ora, e o que a Angélica falou sobre a Aids em relação às mulheres? Que só as “ordinárias” (palavra dela) contraem o vírus HIV? Por acaso, as estatísticas não demonstram que as mulheres casadas e fiéis também podem contrair Aids, caso seu cônjuge tenha hábitos promíscuos?

Sobre este ponto, preciso falar de minha insatisfação com o Ministério Público que embarcou no clima que o Movimento Gay quis impingir em cima de Marcelo Dourado. Tratou de forma desigual as declarações dele e de Morango acerca da Aids. Não quero crer, contudo, que o Ministério Público tenha feito isso por má fé, ou porque torcia contra Marcelo Dourado, mas porque a maior parte das denúncias que chegam à instituição é oriunda da sociedade civil organizada. O Ministério Público caiu na “armadilha” do Movimento Gay, que não foi isento, nem usou o mesmo peso da balança, na sua avaliação sobre as declarações de Dourado e Morango acerca da Aids.

Por fim, preciso dizer que não gostei do olhar monolítico do Movimento Gay sobre o Big Brother Brasil 10. No jogo, no espetáculo, estão presentes vários julgamentos sobre a conduta e a moral dos participantes – e o olhar sobre a orientação sexual não está no centro da moralidade, assim como a Terra não é o centro do Universo. O julgamento da conduta recai sobre vários aspectos da pessoa, independente de sua orientação sexual.

Dicesar, por exemplo, foi o campeão do programa de falar mal pelas costas, ao estilo das melhores futriqueiras barrocas de porta de igreja. Ele também acusou Dourado de não ter fé, como se vivêssemos na Idade Média e fosse crime não tê-la! A mãe de Dicesar mostrou preconceito ainda maior de credo ao dizer que a mãe de Dourado praticava magia negra por conta de um livro que escreveu.

A ironia disso é que, constitucionalmente, o mesmo artigo que proibe preconceito por orientação sexual, também proibe preconceito por orientação de credo. Mas nada disso podia ser levado em conta pelos espectadores, porque os anti-Dourado decretaram que o centro de todas as observações tinha que ser pela ótica de uma suposta homofobia de Dourado que a maioria não conseguiu enxergar.  E, ao negarem a crítica às condutas dos coloridos da casa do BBB 10, ficou parecendo que os gays deveriam ser sacralizados. Não podiam ter suas condutas contextadas e, sim, serem colocados no altar dos santos inatingíveis.

Enfim, como se não bastassem os medievalismos praticados por sua torcida aqui fora da casa, o “herói” dos anti-Dourado, o "santo" acusador do "malvado" que se tornou campeão, caminhou pelos mesmos métodos que tanto me lembraram a prática e a cultura da Igreja medieval. Afinal, é a partir de qual cultura que Dicesar recorreu à medieval imagem da malhação de Judas, ao rogar que Dourado, “na próxima encarnação”, venha como saco de pancadas para ser chutado?

São estes que querem que eu acredite que são as forças progressistas da sociedade? Haja paciência!

Bem, vou ficando por aqui, muito embora ainda esteja engasgada com outras coisas, tal como a forte cultura machista que observei entre os coloridos do BBB 10. Mas este papo fica para depois.